Nora Ney, cujo nome verdadeiro era Iracema de Sousa Ferreira, nasceu em 20 de março de 1922, no bairro de Olaria, no Rio de Janeiro. Ela se destacou como cantora, compositora e instrumentista.
Diferentemente de muitas outras cantoras de rádio, Nora Ney teve sua carreira incentivada por seu pai.
Ele lhe presenteou com um violão, e Nora Ney aprendeu a tocar o instrumento sozinha. Sua jornada musical começou com a canção “Valsa de Cristal”.
Enquanto morava na Urca, ela teve a oportunidade de conhecer artistas como Dick Farney e Cibele, e começou a se apresentar em pequenos eventos.
Essa paixão pela música e sua habilidade autodidata no violão abriram portas para Nora Ney, levando-a a se tornar uma das vozes mais icônicas da música brasileira.
Primeira Cantora Brasileira com Disco de Ouro
Em 1952, Nora Ney lançou o disco de 78 rotações intitulado “Ninguém Me Ama”.
Esse álbum a tornou a primeira cantora brasileira a conquistar um disco com certificado de ouro, atingindo a marca de 300 mil cópias vendidas.
Esse feito foi histórico e solidificou sua posição na música brasileira.
Pioneira do Rock Brasileiro
Nora Ney também é creditada como a primeira intérprete brasileira a gravar uma canção de rock brasileiro.
Em outubro de 1955, ela cantou “Ronda Das Horas”, uma versão do clássico “Rock Around the Clock” de Bill Haley, para a trilha sonora do filme brasileiro “Sementes da Violência”.
A canção alcançou rapidamente o topo das paradas de sucesso no Brasil.
Títulos Honorários e Reconhecimento
Nora Ney colecionou sucessos com músicas como “De Cigarro Em Cigarro”, “Se Eu Morresse Amanhã”, “Bar Da Noite”, “Preconceito”, “Menino Grande”, “Felicidade”, “Duas Lacraias” e “A Flor e o Espinho”.
Ela recebeu os títulos honorários de “Rainha das Rádios” e “Deusa” ao longo de sua carreira.
Carreira Internacional
Nora Ney se apresentou em países como Argentina, China, Rodésia e Rússia.
Em 1958, a convite do presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, ela participou de uma caravana artística para preparar a reaproximação com a União Soviética e a China.
A turnê foi um sucesso e resultou em várias viagens de trabalho para esses locais nos anos seguintes.
Posicionamento Político
Nora Ney foi uma das primeiras artistas e uma das poucas mulheres assumidamente de esquerda de sua época.
Ela se opôs ao regime militar no Brasil e, devido à sua associação com o Partido Comunista, teve que se exilar na Rússia.
Durante o período de exílio, Nora Ney fez gravações fora do Brasil, principalmente em países da Europa e em Cuba, onde a música brasileira e os artistas em exílio eram bem recebidos.
Em Cuba, Nora Ney teve a oportunidade de gravar álbuns e se apresentar em diversos eventos culturais.
A ilha era um local de refúgio para muitos artistas brasileiros que eram perseguidos politicamente, e a presença de Nora Ney lá permitiu que ela continuasse sua carreira artística, mesmo longe de sua terra natal.
Durante sua estadia em Cuba, ela gravou discos pela EGREM, a gravadora estatal cubana, que apoiava artistas estrangeiros alinhados com causas progressistas.
A coragem e a resiliência de Nora Ney em continuar sua paixão pela música mesmo em circunstâncias desafiadoras são dignas de admiração.
Nora Ney deixou um legado significativo na música brasileira e continua sendo lembrada como uma das grandes cantoras de sua geração.
Discografia de Nora Ney
“Canta Nora Ney” (1955): Este álbum inclui canções como “Onde Anda Você?”, “Não Sou Mais Criança”, “Menino Grande” e “Se Eu Morresse Amanhã (de Manhã)”.
“Solidão” (1958): Este álbum traz músicas como “Tudo Passa”, “Quando A Chuva Não Vem”, “Pra Falar Com Meus Botões” e “O Que Pedro Manduca”.
“Ninguém Me Ama” (1960): Um álbum que inclui faixas como “Ninguém Me Ama”, “Felicidade”, “Preconceito”, “Bar da Noite” e “De Cigarro em Cigarro”.
“Me Dá a Penúltima (Tucunaré)” (1972): Este álbum apresenta músicas como “Bar da Noite”, “Felicidade”, “Menino Grande”, “Castigo” e “Teleco-teco nº2”.
“Jubileu de Prata” (1977): Nora Ney celebrou seus 25 anos de carreira com este álbum, que contém músicas como “Provei Alô Padeiro (Não É Economia)”, “Ronda”, “Os Cinco Bailes da História do Rio” e “Fim de Semana Em Paquetá”.
“Nora Ney” (1976): Neste álbum, encontramos “Menino Grande”, “Quanto Tempo Faz”, “Ninguém Me Ama”, “De Cigarro Em Cigarro” e “Preconceito”.
“Tempestade de Saudade” (1987): Este álbum inclui faixas como “Por Incrível Que Pareça”, “Deixe A Chave”, “Quero Que Volte” e “Meu Cantar é Tempestade de Saudade”.
“Acervo Especial” (1994): Outra coletânea que apresenta músicas como “Castigo”, “Vai, Mas Vai Mesmo”, “Conselho”, “Felicidade” e “Bar da Noite”.
“Mestres da MPB” (1994): Este álbum é uma coletânea que inclui sucessos como “Ninguém Me Ama”, “De Cigarro em Cigarro”, “Se Eu Morresse Amanhã”, “Menino Grande” e “Bar da Noite”.
Esses álbuns representam diferentes fases da carreira de Nora Ney e sua contribuição significativa para a música brasileira.
Resenha das Músicas Mais Famosas
“Ninguém Me Ama”
“Ninguém Me Ama” é uma das músicas mais emblemáticas de Nora Ney, lançada em 1952.
A canção, composta por Antônio Maria e Fernando Lobo, é um samba-canção que expressa um profundo sentimento de solidão e desamor.
A interpretação de Nora Ney é marcada por uma voz melancólica e carregada de emoção, que cativa o ouvinte desde o primeiro verso.
A letra retrata uma mulher que se sente desamparada e não amada, um tema que ressoa com muitos e solidificou o lugar da canção na história da música brasileira.
“De Cigarro Em Cigarro”
“De Cigarro Em Cigarro” é outra obra-prima de Nora Ney, lançada em 1953.
Composta por Luiz Bonfá, a música apresenta uma melodia envolvente e uma letra que fala sobre o sofrimento amoroso e a tentativa de aliviar a dor através do cigarro.
A interpretação de Nora Ney é intensa e tocante, transmitindo a angústia e a resignação de alguém que se refugia no fumo para escapar das aflições do coração.
A combinação da voz rouca de Nora e a melodia sofisticada faz desta canção um clássico atemporal.
“Preconceito”
Lançada em 1952, “Preconceito” é uma canção de sucesso de Nora Ney que aborda temas sociais e pessoais com uma profundidade única.
Composta por Marino Pinto e Wilson Batista, a letra fala sobre as barreiras impostas pelo preconceito e como ele afeta os relacionamentos e a vida das pessoas.
Nora Ney entrega uma performance poderosa, com sua voz transmitindo a dor e a indignação de quem sofre as consequências do preconceito.
A música é um apelo tocante por empatia e compreensão, refletindo questões que continuam relevantes.
“Menino Grande”
“Menino Grande” é uma canção menos conhecida de Nora Ney, mas igualmente significativa.
Composta por Antonio Maria e Ismael Neto, a música tem uma melodia doce e uma letra que mistura ternura e tristeza.
Nora Ney canta sobre a figura de um menino que representa a esperança e a pureza, contrastando com a realidade dura e impiedosa do mundo adulto.
A interpretação de Nora é delicada e cheia de sentimento, destacando sua capacidade de transmitir emoção através de cada palavra.
“A Flor e o Espinho”
“A Flor e o Espinho” é uma canção de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha, que Nora Ney interpretou de maneira inesquecível.
Lançada em 1957, a música é um samba dolente que fala sobre as dualidades da vida e do amor, representadas pela flor (beleza e ternura) e o espinho (dor e sofrimento).
Nora Ney captura perfeitamente essa dualidade com sua voz expressiva e cheia de nuances, tornando a canção uma reflexão profunda sobre a condição humana e os altos e baixos das emoções.
Curiosidades de Nora Ney
O nome artístico “Nora Ney” foi inspirado na cantora e atriz americana Nora Bayes. Nora Ney admirava o trabalho de Bayes e decidiu homenageá-la ao escolher seu nome artístico.
Nora Ney era uma torcedora fervorosa do Olaria Atlético Clube, um time de futebol do Rio de Janeiro. Ela frequentemente expressava seu amor pelo clube em suas músicas e entrevistas.
Nora Ney, passou por momentos extremamente difíceis em sua vida pessoal, incluindo um episódio dramático envolvendo seu primeiro marido, este incidente quase custou sua vida.
Fechamento para o Post
Desde os tempos áureos do samba-canção até os desafios enfrentados durante seu exílio, ela sempre se manteve fiel à sua arte e aos seus princípios.
Suas canções, repletas de paixão, melancolia e verdade, continuam a ressoar com novas gerações, evidenciando seu talento atemporal.
Ao refletirmos sobre sua vida e carreira, lembramos não apenas das melodias inesquecíveis que ela nos deixou, mas também de sua coragem e resiliência.
Nora Ney transformou suas dores e alegrias em música, criando um legado que transcende o tempo e as adversidades.
Sua história é um testemunho de força e dedicação, inspirando não só amantes da música, mas todos que acreditam no poder transformador da arte.
Nora Ney é, sem dúvida, um capítulo essencial na rica tapeçaria da música brasileira.