Jards Macalé: O Gênio Polivalente da Cultura Brasileira

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Jards Anet da Silva, mais conhecido como Jards Macalé, nasceu no Rio de Janeiro em 3 de março de 1943, ele é uma figura emblemática e polivalente na música brasileira.

Jards Macalé cresceu rodeado de música. No bairro da Tijuca, onde nasceu, ele ouvia os batuques do samba no morro e as valsas e modinhas tocadas ao piano por sua mãe Lígia.

Cantor, violonista, compositor, arranjador e ator carioca, Macalé é celebrado por sua originalidade e independência artística, influenciando diversas gerações de músicos e artistas.

Sua trajetória é marcada por colaborações importantes, discos icônicos e uma carreira que transcende a música, abarcando várias formas de arte.

Primeiros Passos e Início de Carreira

Jards Macalé formou seu primeiro grupo musical, o duo “Dois no Balanço”, e integrou posteriormente o conjunto “Fantasia de Garoto”, que tocava jazz, seresta e samba-canção.

Desde cedo, Jards Macalé esteve imerso no universo musical, trabalhando como copista do maestro Severino Araújo.

Apesar de seu talento para a música, no futebol ele era uma negação, ganhando dos amigos o apelido de “Macalé”, em homenagem ao pior jogador do Botafogo na época.

Ele começou a adquirir notoriedade nos anos 1960, tornando-se presença constante na Churrascaria Pirajá, em Ipanema, frequentada por figuras como Vinícius de Moraes e Grande Otelo.

Nos anos 1960 Ele desempenhou um papel influente no movimento tropicalista brasileiro.

Em 1967, Gal Costa se mudou para o Rio de Janeiro e ficou hospedada na casa de Jards Macalé, onde conviviam com outros artistas e músicos da época, criando um ambiente fértil para a criação e colaboração artística.

Em 1966, já amigo de músicos baianos, dirigiu um show de Maria Bethânia e, em 1969, participou do IV Festival Internacional da Canção com uma teatral apresentação de “Gotham City”, recebida com vaias.

Jards teve composições gravadas por Elisete Cardoso e Nara Leão.

Com Gal Costa, Paulinho da Viola e o parceiro José Carlos Capinam, criou a agência Tropicarte para administrar a gestão de seus próprios espetáculos.

Londres e a Parceria com Caetano Veloso

Em 1970, Jards foi a Londres a convite de Caetano Veloso para produzir o álbum “Transa”.

Embora tenha produzido, formado a banda e feito os arranjos, eles não o creditaram no encarte do LP, gerando um desconforto entre ele e Caetano.

Durante esse período, grandes nomes da música brasileira, como Gal Costa (“Hotel das Estrelas”, “Vapor Barato”), Maria Bethânia (“Anjo Exterminado” e “Movimento dos Barcos”) e Clara Nunes (“O Mais-Que-Perfeito”), gravaram suas músicas.

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Carreira Solo e Colaborações

De volta ao Brasil, Macalé lançou seu primeiro LP solo, “Jards Macalé” (1972), seguido por “Aprender a Nadar” (1974), que apresentava a linha de “morbeza” (morbidez + beleza) romântica, em parceria com Waly Salomão.

Em 1973, gravou o “Banquete dos Mendigos”, um disco duplo ao vivo com vários artistas, em comemoração ao 25º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, censurado na época e lançado apenas anos depois.

Hiato e Retorno

Após um hiato fonográfico de 11 anos, Jards Macalé retornou com o álbum “O Q Faço É Música” em 1998.

Durante esse período, tanto jovens músicos quanto veteranos reconheceram seu trabalho.

Canções como ‘Gotham City’ e ‘Vapor Barato’ foram regravadas por bandas como Camisa de Vênus e O Rappa.

Discografia e Músicas Mais Famosas

Àlbuns

Jards Macalé (1972)

Aprender a Nadar (1974)

Banquete dos Mendigos (1973)

Quatro Batutas e um Curinga (1987)

Resenhas de Músicas Famosas

Hotel das Estrelas

“Hotel das Estrelas” é uma balada introspectiva que captura a essência da solidão urbana. A melodia melancólica e os arranjos sofisticados criam uma atmosfera de abandono e tristeza.

A letra, rica em metáforas, reflete sobre o isolamento e a busca por significado em meio ao caos da cidade.

Vapor Barato

Considerada uma das obras-primas de Jards Macalé, “Vapor Barato” é uma canção de lamento e esperança.

A letra poética, combinada com a melodia envolvente, faz desta uma das faixas mais emocionantes e regravadas do repertório brasileiro. A música expressa uma saudade profunda e um desejo de libertação.

Anjo Exterminado

 “Anjo Exterminado” é uma colaboração com Waly Salomão, marcada por uma combinação de morbidez e beleza.

A faixa destaca-se pela sua complexidade lírica e musical, explorando temas de perda e redenção. A voz de Macalé, carregada de emoção, dá vida à letra introspectiva.

Movimento dos Barcos

Com uma melodia suave e arranjos delicados, “Movimento dos Barcos” é uma canção lírica que evoca imagens de tranquilidade e reflexão.

A letra poética, rica em simbolismo, convida o ouvinte a uma jornada introspectiva, refletindo sobre a passagem do tempo e a busca por paz interior.

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Curiosidades Sobre Jards Macalé

Em 1969, substituiu o violonista Roberto Nascimento no mítico show “Opinião”.

Jards Macalé e Hélio Oiticica trabalharam juntos para criar uma obra de arte interativa chamada “Macaléia”, que faz parte da série de penetráveis de Oiticica.

Essa colaboração exemplifica a fusão entre música, arte visual e experiência sensorial que caracterizou o trabalho desses dois artistas.

Atuou no filme “Amuleto de Ogum” de Nelson Pereira dos Santos, e fez a trilha sonora.

Ele foi tema de dois documentários premiados no Festival do Rio: “Jards Macalé – Um morcego na porta principal” e “Jards”.

Legado

Jards Macalé é um artista singular, cuja obra transcende a música e se estende ao cinema, teatro e artes plásticas.

Sua carreira é um testemunho de originalidade e independência, inspirando tanto seus contemporâneos quanto novas gerações de artistas.

Em 2015, lançou seu primeiro DVD ao vivo, consolidando sua presença no cenário musical com uma vigorosa banda formada por jovens músicos.

Jards Macalé Atualmente

Jards Macalé, ícone da música brasileira, continua ativo e criativo mesmo após décadas de carreira.

Shows e Novo Álbum:

Jards Macalé apresentou recentemente o show “Coração Bifurcado” em São Paulo, acompanhado por uma banda formada por mulheres.

O álbum homônimo, com 12 faixas, tem direção musical do próprio Jards Macalé e direção artística de Romulo Fróes.

O show celebra a dualidade amorosa e a figura do malandro do samba, com inspiração na entidade afro-brasileira Zé Pelintra.

Jards Macalé continua a se apresentar em outros locais, incluindo na Europa, celebrando os 50 anos de seu disco de estreia.

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Vídeos e Documentários:

Seu canal no YouTube, Jards Macale @JardsMacaleOficial, oferece uma variedade de conteúdo, incluindo clipes musicais, shows completos e depoimentos.

Um dos clipes recentes é “Coração Bifurcado”, que explora a dualidade do coração e a influência de Exu, o orixá dos caminhos, na vida e na arte.

Além disso, há um documentário chamado “Macalé”, dirigido por Érik Rocha, que acompanha a produção de um de seus CDs e oferece insights sobre sua carreira e influência.

80 Anos com Vigor Artístico:

Jards Macalé completou 80 anos em 2023 e ainda mantém sua liberdade criativa e prestígio na indústria da música. Sua trajetória como um “anjo torto” da MPB continua a inspirar gerações e a desafiar convenções.

Em resumo, Jards Macalé permanece como uma figura relevante e ativa na cena musical brasileira, continuando a explorar novos territórios sonoros e a encantar seu público com sua irreverência e talento.

A trajetória de Jards Macalé é marcada por uma constante busca por inovação e expressão artística.

Seu legado continua a influenciar e inspirar, fazendo dele uma figura central na cultura brasileira. Suas músicas, com letras profundas e arranjos inovadores, são um convite à reflexão e à apreciação da arte em sua forma mais pura.

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